VAZAMENTO NO FACEBOOK: Mark Zuckerberg depõe na Câmara sobre uso de dados no Facebook.

O CEO do Facebook afirmou que a rede social 'não vende dados' e que é favorável a uma maior regulamentação sobre a sua atuação e de outras empresas que lidam com informações de usuários.
Zuckerberg depõe nos EUA (Foto: Leah Millis/Reuters)
Zuckerberg depõe nos EUA (Foto: Leah Millis/Reuters)
Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, responde perguntas de deputados na Câmara dos Estados Unidos nesta quarta-feira (11), após já ter participado na véspera de uma audiência sobre o mesmo assunto no Senado que durou quase cinco horas.


O executivo está sendo questionado pelos deputados do Comitê de Energia e Comércio sobre como o Facebook reagiu ao "vazamento" de dados de 87 milhões de pessoas pela consultoria política Cambridge Analytica e como a empresa trabalha para proteger os dados de seus usuários.


Em seu discurso de abertura, o deputado Frank Pallone demonstrou que os questionamentos podem ser mais incisivos do que os feitos pelos senadores e adiantou que o esforço do Congresso norte-americano em ouvir o CEO do Facebook não pode ficar apenas no discurso.


“O Facebook se tornou uma plataforma para pressão de eleitores, com pouca ou nenhuma supervisão”, afirmou o deputado Frank Pallone. Ele acrescentou que, dada a extensão dos dados coletados por empresas como a rede social, é preciso criar uma regulamentação que amplie a proteção à privacidade de usuários.


“Se nós fizermos essa audiência e nada acontecer, então não teremos cumprido nada. Eu já vi isso muitas vezes: temos audiências e nada acontece”, afirmou Pallone. “Desculpe-me por ser tão pessimista, presidente.”

Uso de dados

O presidente da comissão, Greg Walden, questionou se, ao expandir sua atuação para áreas tão diversas como a transmissão de eventos esportivos e transferência de dinheiro, o Facebook havia se tornado uma companhia de mídia e de serviços financeiros. “Eu nos considero uma empresa de tecnologia”, afirmou Zuckerberg, acrescentando que, “apesar de ter engenheiros focados no desenvolvimento de softwares, não são uma empresa de software”.


Ele ainda questionou como o negócio de publicidade da empresa funciona e se havia a comercialização das informações pessoais de seus usuários. “Nós não vendemos dados, não é assim que os anúncios funcionam.”


Pallone pressionou Zuckerberg a se comprometer que o Facebook limitaria a coleta de dados ao mínimo necessário para a rede social funcionar. “Deputado, esse é um assunto muito complexo para ser respondido de forma simples”, disse o CEO.

Cambridge Analytica

Zuckerberg afirmou que o Facebook está estudando entrar com processos judiciais contra a Cambridge Analytica e Alexander Kogan, o desenvolvedor que criou o teste usado para coletar informações de usuários da rede social.


“Eu acredito que o dano à nossa democracia causado pelo Facebook e sua plataforma é incalculável”, afirmou deputada Anna Eshoo, uma das mais contundentes em suas críticas.


Ela fez duros questionamentos sobre a postura da empresa ao lidar com a exploração das informações de usuários pela Cambridge Analytica. Em resposta a uma das perguntas, Zuckerberg chegou a afirmar que ele também teve seus dados pessoais vendidos por empresas que extraíram informações da rede social de forma inadequada.

Regulamentação

Zuckerberg voltou a demonstrar que o Facebook está disposto a discutir uma regulamentação de empresas que lidam com grandes bases de dados. “Minha posição não é a de que não deve haver regulação, mas de que forma ela vai ser aplicada.”

Censura
Depois do senador Ted Cruz questionar Zuckerberg sobre se o Facebook censurava blogs ou sites conservadores, o deputado Joe Barton voltou ao assunto. O presidente da rede social afirmou que não há esse tipo de orientação, tanto que a Fox News é uma das páginas que mais consegue engajamento.

Competição

Zuckerberg afirmou que a atuação do Facebook não é um risco à competitividade no setor de tecnologia e um impeditivo ao surgimentos de novas empresas.

“O americano médio usa oito apps diferentes para se comunicar”, afirmou Zuckerberg, que lidera a empresa dona do Facebook, Messenger, Instagram e WhatsApp, que devem ser provavelmente quatro dos oito apps citados.

Maior pressão

A ida de Zuckerberg ao Congresso dos EUA ocorre na esteira do escândalo da manipulação indevida de dados de 87 milhões de usuários pela Cambridge Analytica, consultoria política que trabalhou para Donald Trump durante a corrida eleitoral de 2016 e na campanha para a saída do Reino Unido do Brexit.


A forma como as informações foram obtidas pela empresa britânica colocou no centro da discussão o modelo de negócio do Facebook e de outras empresas de tecnologia, que coletam, processam e armazenam dados de seus usuários para segmentar a distribuição de anúncios.
Países com mais usuários afetados pelo escândalo do Facebook
Norte-americanos foram os mais tiveram dados explorados de forma inadequada pela Cambridge Analytica;

A polêmica da Cambridge Analytica ocorre em um momento em que começou a intensificar a pressão para regulamentar a atuação de empresas de tecnologia que mantêm plataformas, em que pessoas depositam grande quantidade de conteúdo.


No fim de fevereiro, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma lei que mudou um dos grandes paradigmas legais em torno de companhias de internet: a responsabilização judicial delas em caso de ações ilícitas praticadas por usuários.


A nova legislação permite que sites e serviços conectados sejam levados à Justiça caso sejam usados para o tráfico sexual. Até então, as empresas não podiam ser processadas, mesmo que suas plataformas fossem uma porta aberta para escravidão sexual ou tráfico de seres humanos. Os responsáveis por promover esses conteúdos é que deveriam ser processados.

O escândalo do Facebook

Em 17 de março, os jornais "New York Times" e "Guardian" revelaram que os dados de mais de 50 milhões de usuários do Facebook foram usados sem o consentimento deles pela Cambridge Analytica. Dias depois, o próprio Facebook retificou a informação e passou a estimar em 87 milhões o número de pessoas atingidas.


A empresa britânica de análise política acessou o grande volume de dados pessoais após um teste psicológico, que circulou na rede social anos atrás, coletar informações. Os dados recolhidos não eram só os das pessoas que toparam fazer o teste. Havia também informações de milhões dos amigos delas.


Para ter a acesso ao gigante estoque de dados, o teste não precisou usar hackers ou explorar brechas de segurança. Apenas aproveitou que, na época, o Facebook dava a liberdade para seus usuários autorizarem o acesso aos dados de seus amigos. O passo seguinte, no entanto, estava fora do raio de atuação do Facebook: após a coleta dos dados, o desenvolvedor do teste os compartilhou com a Cambridge Analytica.


O escândalo deflagrou uma onda de ceticismo sobre como o Facebook protege os dados de indivíduos que estão presentes em seu site. A rede social passou a investigar o caso e já implementou algumas modificações, como:



criou um atalho para usuários alterarem de forma mais simples suas configurações de privacidade;
esmiuçou a política de dados e os termos de serviço, para incluir formas de coleta de informação até então ausentes, detalhar algumas práticas e ampliar essas regras para Instagram e Messenger;
endureceu as normas de veiculação de campanhas políticas, para passar a exigir a identidade dos anunciantes;
restringiu o uso de dados de usuários por aplicativos que não sejam usados por três meses pelas pessoas.

Desde então, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, reconheceu que a empresa cometeu erros e que não fez o suficiente para evitar que a rede social fosse usada para causar danos.



No Brasil, o Ministério Público do Distrito Federal abriu um inquérito para apurar se o Facebook compartilhou dados de usuários brasileiros com a Cambridge Analytica –segundo a rede social, os dados de 443 mil brasileiros podem ter sido comprometidos pela Cambridge Analytica.
Fonte: G1 / Reuters 

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